Por Nicole Annunciato*, G1 Sorocaba e Jundiaí


Cia Anjos da Alegria, de Sorocaba (SP), produz máscaras para doar aos hospitais — Foto: Maria José da Silva Macedo/Arquivo pessoal

"Quem trabalha com amor sofre". Foi essa a frase que a presidente de uma ONG de palhaços usou para definir a quarentena após ter as visitas aos hospitais suspensas. Porém, para continuar ajudando os pacientes, o grupo decidiu produzir máscaras e aventais para serem doados.

Dessa forma, Maria José da Silva Macedo contou ao G1 que decidiu provar que a alegria do palhaço não acaba quando ele sai do palco. A ONG que ela preside, a Cia. Anjos da Alegria de Sorocaba (SP), conta com 130 voluntários, entre palhaços, atores, contadores de histórias e palestrantes.

"Fazemos as visitas semanais, de segunda a segunda, nos hospitais. Como foram proibidas as visitas, também tomei a iniciativa de parar e preservar a saúde dos nossos voluntários. Resolvemos fazer um levantamento de dinheiro entre os próprios voluntários, todos assíduos, comprometidos", conta.

"Nós resolvemos dar 'férias coletivas' para todo mundo, mas, quando a gente abraça com amor, faz o trabalho com amor, é muito triste largar. É viciante", explica.

Três voluntárias do projeto enviaram um vídeo ao G1 mostrando como funciona a confecção das máscaras, mas sem se esquecer de usar o nariz de palhaço (assista abaixo).

Impedida de fazer visitas, ONG de palhaços de Sorocaba produz máscaras para hospitais

Impedida de fazer visitas, ONG de palhaços de Sorocaba produz máscaras para hospitais

O objetivo da ação, segundo Maria, é produzir mais de duas mil máscaras para serem doadas aos hospitais de cidades da região.

"Foi e está sendo muito difícil. Através dessas costuras e de doações, está melhorando. Todo mundo querendo voltar e com saudade. Você cria um vínculo naquele hospital e faz parte da sua agenda. Quando isso é proibido, mexe com a cabeça da gente. É um trabalho totalmente diferente".

A presidente conta que, apesar da dificuldade, mais de 800 máscaras já foram produzidas pelo grupo, que decidiu unir o amor pela causa com a solidariedade.

"Estou há mais de 60 dias dentro de casa, mas fazer as máscaras está melhorando a cabeça de todos. Vamos embalar tudo individualmente para fazer a entrega e distribuir. Quando terminarmos as máscaras, vamos partir para mais. Não vamos parar agora não. Mil máscaras para um hospital não é nada, mas já ajuda", diz.

ONG de palhaços produz máscaras para doar aos hospitais de Sorocaba — Foto: Maria José da Silva Macedo/Arquivo pessoal

'Carência'

Maria teve a ideia de montar a ONG quando veio de Recife (PE) para Sorocaba há 15 anos, e decidiu trabalhar como voluntária em um hospital da cidade. "Descobri que havia uma necessidade, uma carência em todos os hospitais de pessoas para levar alegria", comenta.

O grupo começou fazendo visitas em épocas de festas e, em 2010, participou de uma reunião com os Doutores da Alegria. Foi quando os palhaços decidiram começar a fazer visitas regulares aos hospitais.

"Me sinto muito satisfeita e feliz quando consigo colocar em prática. Isso me deixa muito mais feliz do que qualquer outra coisa. Eu abandonei tudo e hoje minha vida é em prol das pessoas que precisam de um sorriso, uma alegria. Eu fico feliz, não tem ideia do amor que tenho", diz.

Impedida de fazer visitas, ONG de palhaços de Sorocaba produz aventais e máscaras para hospitais — Foto: Maria José da Silva Macedo/Arquivo pessoal

Em todos os anos como palhaça, Maria conta que uma das maiores dificuldades foi ter que guardar o nariz de palhaço, após as medidas de isolamento social adotadas devido à pandemia de coronavírus.

"O nariz de palhaço é a menor máscara do mundo, faz toda a diferença. Quando você coloca o nariz, incorpora o palhaço e deixa a tristeza de lado. Você faz coisas que, sem o nariz de palhaço, você não faz. Representa mudança, tudo se abre e fica bonito, transforma completamente", explica.

"Eu já nasci palhaça e a sensação de ter que guardar o nariz e não poder usar foi a pior. Foi uma sensação de tristeza, e eu penso: 'quando será que vou poder usar?'. A vida tem seus altos e baixos", diz.

"Para mim, a ONG significa tudo. Eu amo o que faço, me identifico e sou feliz, apesar de encontrar barreiras, como em todo lugar. Não desistimos, eu só desisto quando morrer. Enquanto eu puder, estou à frente de tudo", conclui.

ONG de Sorocaba produz máscaras para doações em hospitais — Foto: Cia Anjos da Alegria/Divulgação

Máscaras e aventais são produzidos por ONG de palhaços em Sorocaba — Foto: Maria José da Silva Macedo/Arquivo Pessoal

*Colaborou sob supervisão de Ana Paula Yabiku.

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